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Como Formar um bom Setup de Teclados?

Atualizado: 23 de mai. de 2020

Quando comecei a estudar piano, com sete anos de idade, não imaginava que o universo dos instrumentos com teclas fosse tão extenso e variado. Para mim, resumiam-se a piano acústico e órgão de igreja. Não tardou, porém, e comecei a reparar em outros equipamentos com as mesmas teclas brancas e negras.

Muitos instrumentos formidáveis foram criados até os dias de hoje, como órgãos de tubo, cravos, pianos, acordeons, mellotrons, sintetizadores, etc... Apenas por curiosidade, no ano em que nasci, 1967, Roberto Moog estava produzindo moogs modulares.

Ao ingressar para a minha primeira banda de rock, a "Mau Contato", de Mogi das Cruzes (SP), em 1986, percebi que teria de aprender muito e rapidamente sobre este novo mundo, e rapidamente me apaixonei pelo rock progressivo e pelo classic rock, e seus grandes tecladistas como Richard Wright, Tony Banks, Jon Lord, Rick Wakeman, Keith Emerson, Gregg Rolie, Chuck Leavell, Billy Preston, dentre outros.

A classificação mais abrangente é a seguinte:

Acústicos: sonoridade produzida pela vibração do ar, sem utilização da eletrônica, como pianos acústicos, cravos, órgãos de tubo tradicionais, etc...

Eletrônicos: sonoridades produzida por força da eletricidade, como sintetizadores, órgãos eletrônicos, pianos elétricos, etc...

No âmbito dos instrumentos com teclas eletrônicos, a classificação mais usual é esta:

Teclados (arranjadores): Proporcionam ritmos, timbres e estilos de acompanhamento musicais (pop, jazz, rock, entre outros), propícios aos músicos que se apresentam individualmente. Normalmente já possuem alto-falantes embutidos e programas instalados de fábrica que facilitam a produção da parte harmônica (criador de acordes) e rítmica, descomplicando a utilização do equipamento, proporcionando uma experiência interessante devido aos recursos oferecidos.

Sintetizadores: projetados para gerarem sons mediante manipulação de correntes elétricas (sintetizadores analógicos), leitura de dados contidos numa memória (sintetizadores digitais), ou manipulação matemática de valores discretos com o uso de tecnologia digital incluindo computadores (modulação física) ou uma combinação de diversos métodos. No estágio final, as correntes elétricas são usadas para causar vibrações no diafragma de caixas de som, fones de ouvido, etc.

Samplers: Equipamentos que dispõem amostras de sons gravadas digitalmente, seja de instrumentos acústicos, eletromecânicos ou eletrônicos (pianos, sintetizadores, órgãos, etc...), seja de efeitos sonoros (sons de vento, de chuva, etc...). Workstations: Instrumentos que oferecem síntese de sons e gravação digital (sequenciador). É comumente utilizado em estúdios de gravação, e também, em menor escala, nos palcos.

Eletromecânicos: nesta categoria ingressam os Mellotrons, que são instrumentos com banco de fitas magnéticas de áudio. Também se enquadram aqui os pianos elétricos Fender Rhodes e Wurlitzer, com sons produzidos mecanicamente e transformados em sinais elétricos, conforme o tipo de fonocaptadores utilizados.

Pianos digitais: são desenvolvidos basicamente para produzir sons de piano.

Controladores: A grande maioria não possui timbres próprios, isto é, não são autosuficientes em questão de geração de som, e o objetivo principal é controlar outros instrumentos musicais ou mesmo computadores com softwares musiciais (VSTI's), por meio do formidável protocolo de comunicação MIDI.

Órgãos: originariamente criados para finalidades litúrgicas, com o passar dos anos passaram a ser utilizados também na música popular, principalmente após o advento do instrumento eletro-mecânico desenvolvido por Laures Hammond na década de 1930. Com o tempo, surgiram outros órgãos eletrônicos, como o Vox e o Farfisa. Os clonewheels são simuladores de órgãos, como o Suzuki SK-2, ou o Korg CX-3.

Cravos: Incluindo o virginal, o muselar e a espineta. Todos esses instrumentos pertencem ao grupo das cordas pinçadas, ou seja, geram o som tangendo ou beliscando uma corda ao invés de percuti-la como no piano ou no clavicórdio.

Interessante notar que a palavra "teclado" não é unívoca, porquanto pode ser citada como gênero para abarcar todos os instrumentos com teclas (em inglês keyboard); ou como espécie, significando instrumento com teclas no estilo "arranjador".

Um assobio produz som, mas não se utiliza instrumento para criá-lo, senão o próprio corpo por meio da expiração constante através da boca, cujo ar é direcionado pela língua, lábios, dentes ou dedos. A voz também não neessita de equipamentos para soar. Contudo, diferentes tipos de sons necessitam de instrumentos externos ao corpo, que sirva de extensão aos dedos, lábios, pernas, etc... Um instrumento musical, seja ele qual for - sopro, teclas, percussão, cordas, etc... -, tem por função servir de extensão ao corpo humano com a finalidade de produzir sons.

Se se pretende som de órgão, de violino ou de flauta, lança-se mão do equipamento acessório ao corpo humano respectivo, e a única dúvida que surge para o músico é que modelo escolher para cada tipo de som que se pretende criar. Assim, se o músico dos dias de hoje pretende produzir som de piano, por exemplo, terá a disposição gama enorme de opções:

  • piano acústico vertical

  • piano acústico horizontal ("de cauda")

  • piano digital

  • piano elétrico

  • piano sampleado

  • piano sintetizado

  • piano de cordas pinçadas

  • piano oriundo de VST'i (controlador)

  • piano presente em workstations

  • piano presente em teclado arranjador

  • piano presente em simulador

No âmbito dos instrumentos com teclas, as opções são muitas e variadas.

O músico deve compreender, antes de mais nada, sua real necessidade.

Quando passei a me dedicar às músicas do Pink Floyd, há cerca de oito anos, o primeiro passo que dei foi no campo da pesquisa. Desta forma, busquei todos os tipos de informações acerca dos equipamentos que Richard Wright utilizou ao longo da carreira. Encontrei materiais interessantes nos próprios álbuns da banda, assim como em revistas, internet, entrevistas com o próprio músico, conversas com amigos, etc... Em destaque, cito este belo texto que pode ser encontrado no link sparebricks.fika.org/sbzine28/WrightGear-rev156.pdf, que considero excelente!

Desta forma, soube que Wright utilizou no início da carreira um órgão Farfisa, bem como pianos acústicos. Com o tempo adicionou mellotrons, efeitos (delay, por exemplo), sintetizadores, pianos elétricos, samplers, etc... Para formar meu atual setup, totalmente pensado e analisado com base nos equipamentos de Wright, testei muitos instrumentos ao longo dos anos, descartando alguns e mantendo outros. Se o músico não tem problemas com dinheiro, se pode comprar o que precisa, ótimo, tudo se torna mais fácil. Se não, assume papel relevante a dicotomia custo-benefício. Mas não é só, precisa pensar também em outros aspectos, principalmente verificar se dispõe de roadies e meio de transporte adequado, espaço no palco, além de técnicos de confiança para manutenção periódica.

Partindo já para o segundo passo, a questão é: vale a pena investir em instrumentos dedicados (especializados) ou em instrumentos abrangentes (genéricos)? Em outras palavras, o que é melhor, partindo para o campo prático e exemplificando: adquirir um minimoog voyager por R$14.000,00, cujo campo de utilização é restrito (é monofônico, sintetiza poucas opções de timbres); ou pelo mesmo preço adquirir um sintetizador workstation que simule a sonoridade de um minimoog, e muitas outras, inclusvie com polifonia e sequenciador, como, por exemplo, um Yamaha Motif XF7?

Para aqueles que preferem adquirir instrumentos dedicados, devem ter ciência, antes de tudo, que precisará de mais equipamentos do que aqueles que abraçam a outra opção, e assim, gastará mais dinheiro. Já vi tecladistas de bandas tributo ao Pink Floyd que utilizam apenas um teclado controlador conectado a um computador (com VSTI's), e, quando muito, outro sintetizador. É possível? sim. Então porque minha opção por teclados dedicados, se desta forma vou gastar mais dinheiro, vou precisar de mais espaço nos palcos, se é mais complicado de transportar, sem contar as visitas mais frequentes ao técnico de manutenção?

A resposta é simples: eu viso a sonoridade.

Um minimoog voyager tem o som característico do Minimoog Model D que Richard Wright utilizou, isto é, timbres pesados e gordos, que se sobressaem em meio à camada sonora intensa proporcionada pelo outros instrumentos comumente utilizados em uma banda de rock, como, por exemplo guitarras com overdrives.

Rick Wakeman disse certa vez: "For the first time you could go on [stage] and give the guitarist a run for his money...a guitarist would say, 'Oh shoot, he's got a Minimoog', so they're looking for eleven on their volume control - it's the only way they can compete." Wakeman completou: "absolutely changed the face of music."

O hammond Suzuki SK-2 é um clonewheel que se equipara muito ao famoso hammond B3 que Wright utilizava, inclusive a simulação de caixa rotatória (leslie 122).

Verifica-se, outrossim, que precisei até aqui de dois instrumentos (minimoog Voyager e Hammond Suzuki SK-2) só para produzir sons de sintetizador monofônico e de órgão hammond, respectivamente; enquanto quem optou por um sintetizador abrangente, consegue tudo em um só teclado, além de muitas outras sonoridades, principalmente levando-se em consideração a possibilidade de divisão das regiões das teclas dos teclados (lato sensu) modernos, cada uma com um timbres ou timbres diferentes (função split). Eu, por enquanto, só tenho órgão e sintetizador monofônico, e gastei muito mais dinheiro, precisando de dois cases para transporte.

Todavia, e aqui é importante destacar, como regra, a sonoridade que consigo com equipamentos dedicados é superior ao de um sintetizador abrangente, ainda que este seja de boa qualidade, no exemplo um excelente Yamaha Motif XF7.

Posso conseguir excelentes sons de piano, de minimoogs (leads, por exemplo), de órgãos, etc... em um workstation de boa qualidade, mas se analisados individualmente com os equipamentos dedicados, não conseguem atingir o mesmo nível, em regra.

Evidente que isto tem uma razão de ser: se uma fábrica de instrumentos eletrônicos como a Korg, ou a Roland, ou a Clavia, qualquer uma, resolvesse lançar um equipamento com os melhores timbres de seus modelos, quem optaria por adquirir vários equipamentos individuais se pode por um preço menor obter todas as melhores sonoridades em um só? é o que se denomina na indústria de evitar a autofagia entre produtos. Na vida cotidiana são inúmeros os exemplos de especialização com resultados melhores que a generalização. Seja no campo profissional da Medicina, do Direito, etc... seja no campo das máquinas. Ademais, é importante não perder de vista que uma fabricante de instrumentos musicais não detém a tecnologia de todas as outras. Por mais que se queira clonar os filtros famosos de Robert Moog, a idéia esbarraria em segredos industriais, e, depois, em problemas de patente ou de registro. Esta é a razão porque a ARP, por exemplo, que surgiu no final da década de 1960, foi acusada desta prática, isto é, de tentar copiar componentes da sua maior rival, a Moog.

Não se nega que a Clavia, por exemplo, conseguiu excelentes resultados com o seu C2 (atualmente C2D) em termos de órgãos, e para alguns, sua sonoridade é até melhor que o da hammond Suzuki SK2. Todavia, é importante não perder de vista que ambos são equipamentos dedicados, e não abrangentes.

Esbarrei em uma dificuldade enorme para adquirir um mellotron, primeiro porque jamais encontrei alguém disposto a vender, e; segundo, ainda que encontrasse, seria complicado se deparar com algum em bom estado de conservação. Então, optei por adquirir um sampler, no caso, minha opção foi pelo Nord Wave, da Clavia, que considero um dos melhores do mercado. Baixando os samples diretamente do site da fabricante sueca, gratuitamente, tenho acesso às flautas utilizadas por Wright, bem como outras sonoridades, como strings e pads. Se Wright utilizou algum pad do Prophet V, da Sequential Circuits, em alguma música, consigo o sampler sem maiores dificuldades, gratuitamente.

Então tudo se resolve com samplers? não.

Algumas sonoridades são interessantes, outras não, para se samplear. Como gravar digitalmente timbres de minimoogs, principalmente os leads, se este instrumento proporciona filtros diferenciados de ressonância? timbres de pianos ou flautas, para ilustrar, são opções interessantes no campo dos samplers.

Se toco em algum teatro ou casa de espetáculos que disponibiliza piano acústico, então minha opção é sempre por utilizá-lo. Foi assim no Theatre Le Grand, do Navio Zenith, durante o último Motorcycle Rock Cruise, onde estive com a Echoes Pink Floyd São Paulo. Utilizei um piano "de cauda" Yamaha, possivelmente o modelo C7. Contudo, quando não é possível, utilizo o Nord Stage 2 ha88, que é considerado por muito um simulador de instrumentos, tal qual sua grande qualidade de reproduzir as sonoridades que se propõe. Os pianos são tão realísticos a ponto de proporcionar parâmetro de ressonância de cordas, dentre o mais. Se tenho a possibilidade de levar ao palco o piano elétrico Rhodes 1977 mark I, que adquiri há cerca de dois anos, não penso duas vezes. Todavia, se não é possível por qualquer razão, então novamente o Nord Stage 2 não me deixa entristecido.

É importante assentar que a minha preferência por instrumentos dedicados não implica de forma alguma assumir posição de supremacia ou algo parecido em relação a músicos que optam diversamente, por instrumentos genéricos. Instrumentos são extensões do corpo, não se exaurem em si mesmos, e cada músico deve procurar sempre os que melhor servem aos seus propósitos, levando-se em consideração sua atividade, disponibilidade financeira e anseios.

A arte é a busca pelo belo, pela emoção. As ferramentas são necessárias, claro, porque sem elas a música não consegue transcender o plano da mente. Desta forma, se o músico se dedica a uma banda de rock que não necessita de complemento de instrumentação pré gravado (playback), não existe razão para adquirir um workstation, e, assim, pode investir em instrumentos mais direcionados e propícios ao seu trabalho. Se toca em uma banda com uma gama enorme de instrumentos sintetizados, com camadas de pads, strings, synth brass, pianos, etc... passa a ser uma boa opção um workstation com inserção de marcação de tempo para os músicos (os famosos clicks ou metrônomos), para, assim, garantir a sincronia entre o que já foi gravado anteriormente e o que está sendo executado ao vivo.

Saber escolher instrumentos não é tarefa fácil. Muitas vezes determinado instrumento ingressa em uma lista de interesses somente porque é mais bonito ou mais usado por outros músicos, ou porque sua publicidade é tão intensa que nos faz acreditar em sua utilidade para qualquer propósito. Não é assim. O que menos importa é a marca, modelo ou fama de determinado instrumento, mas sim se sua sonoridade e características são propícias e adequadas à música que se pretende criar.

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