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MIDI | Aspectos Históricos

Atualizado: 21 de abr. de 2021


A primeira vez que me deparei com um dispositivo MIDI foi em meados de 1986, quando incluí o sintetizador Roland Juno 106 em meu setup. No painel traseiro do instrumento, bem visível, constavam três conectores: midi thru, midi out, e midi in. Embora já soubesse a finalidade do sistema, como utilizá-lo adequadamente? como surgiu este recurso?

Sabe-se que a criação da linguagem MIDI ocorreu definitivamente em 1982, fruto do esforço conjunto de Dave Smith, da Sequential Circuits (fundada em 1970, e vendida para a Yamaha em 1987), e Ikutaru Kakehashi, da Roland (fundada em 1972), diante da necessidade de interatividade entre equipamentos musicais, inclusive de fabricantes diversos.

Fundamentalmente impulsionada pela liberação dos royalties e funcionalidade incrível de seu sistema relativamente simples e eficiente, a linguagem se expandiu rapidamente, abrangendo muitos campos; seja na automação dos shows, envolvendo, no mais, iluminação, equalização, mixagem e mesas de sons inteligentes; quanto na seara dos softwares, com gama enorme de aplicações, dentre os quais, instrumentos virtuais (VSTI's), artifício de correção de afinação de voz em estúdio (melodyne), sequenciação de áudio musical (DAW's, ou estações de trabalho, como o Sonar), edição de partituras tradicionais. Com o tempo, novos mecanismos de interligação surgiram, tais como USB, FireWire, e Wi-Fi, além de mercados ainda inexplorados, como telefones celulares, videogames, etc...

Em última análise, trata-se de importante inovação tecnológica, principalmente no âmbito musical.

O termo "synthesizer", ou sintetizador em vernáculo, surgiu em meados de 1950 com o RCA Synthesizer I. Passados cerca de vinte anos, com a compactação atingida com o minimoog modelo D, esperava-se também superação das limitações de acessibilidade, polifonia e compatibilidade entre diversos fabricantes. Eram as principais reivindicações dos músicos da época.

A Sequential Circuits, fabricante americana (Califórnia), trouxe uma grande inovação no ano de 1977, o sintetizador Prophet 5, o qual, embora extremamente limitado para os padrões atuais, oferecia níveis razoáveis ​​de performance, de estabilidade e também de polifonia, conquanto a preço elevado (cerca de US$4000). Já existiam sintetizadores polifônicos nesta época, como o polymoog, de 1976, todavia, o grande atrativo do Prophet 5 era a possibilidade de memorização de timbres modificados pelo usuário, e acesso rápido a eles. Logo, Korg, Roland e Yamaha iriam reduzir os preços pela metade de equipamentos similares, e, assim, modelos variados de sintetizadores polifônicos passaram a fazer parte dos setups dos músicos da época, ampliando a gama de possibilidades de criação e execução de músicas.

Construir acordes de cinco notas, como no Prophet 5, era algo extraordináro naquela época. A partir de então, sintetizadores baseados em circuitos integrados, como os modelos da Moog, da ARP, e da EMS levaram também a bandeira da polifonia, mas foi a chegada das empresas japonesas Korg, Roland e Yamaha, notadamente no final da década de 1970, que possibilitou a popularização dos sintetizadores polifônicos.

Desta forma, não tardou a cair as vendas de instrumentos tradicionais, e nesta linha pode-se citar os americanos órgão Hammond e piano elétrico Fender Rhodes, ou ainda o alemão Clavinet Hohner. Ter instrumentos como estes, de transporte complicado e manutenção constante, e dedicados a apenas um tipo de sonoridade, passaria a ser exceção entre os músicos, e não regra. A razão é muito simples: sintetizadores com capacidade de armazenamento de timbres (patches), polifônicos, e com diversas possibilidade sonoras eram muito mais versáteis, e, além disso, é claro, a um custo financeiro menor. Bastava ter em mãos um ou dois sintetizadores a partir da década de 1980 que praticamente poder-se-ia garantir a demanda de timbres necessários à produção musical, fosse em estúdios, fosse nos palcos. Claro que timbres mais ricos como pianos acústicos, por exemplo, ainda não era possível conquistar naqueles tempos com a qualidade necessária, daí porque os artistas ainda contavam com pianos acústicos nos palcos, e até mesmo, por conta disso, a sobrevida de variantes foi garantida, como o piano elétrico Yamaha modelo CP (70 e 80), que começou a ser fabricado em 1976, cuja produção foi definitivamente rompida em 1985, com a introdução dos pianos digitais.

No entanto, existe hoje em dia movimento de valorização dos instrumentos clássicos, principalmente os vintages, e os preços dispararam no mercado nos últimos anos. Na minha opinião, o que ocorre é que embora novas e ricas sonoridades, formidáveis algumas, tenha sido implementadas com os sintetizadores e suas diversas formas de sínteses sonoras (subtrativa, aditiva, FM, etc...), o timbre distinto, brilhante e destacado de um clavinet Hohner, por exemplo, dificilmente será substituído com perfeição por simulação, em todas as suas nuances, não obstante a capacidade assustadora das máquinas de fazer som de hoje.

No meu caso, valorizo muito os instrumentos clássicos e originais. As imitações são bem vindas apenas em casos extremos, em hipóteses de impossibilidade de se conquistar o instrumento real. Não sou contra a tecnologia, é claro, muito pelo contrário. Adoro novidades, timbres novos, mas desde que sejam originais. Lembro-me até hoje como fiquei fascinado quando ouvi o timbre denominado "soundtrack" do Roland D-20, e utilizei em várias composições e gravações minhas da época, década de 1990.

Estabilidade, capacidade de reprodução e polifonia continuaram a evoluir no início da década de 1980, mas nada havia ainda de concreto quanto à compatibilidade entre equipamentos, fossem ou não da mesma família. Não quer dizer que os fabricantes estavam inertes nesta seara, muito pelo contrário: antes da criação do sistema MIDI, formas de comunicação isoladas foram inseridas, ainda que timidamente. Falo das interfaces digitais únicas, como por exemplo a da Roland, implementada em 1981 sob a sigla DCB (Digital Control Bus, Digital Connection Bus, ou Digital Communication Bus), e introduzida nos sintetizadores Juno-60 e Jupiter-8. As funções DCB foram basicamente os mesmas que as adotadas na linguagem MIDI, porém, o campo era mais limitado, abordando apenas informações "on/off", "program change", e controles VCF/VCA.

Assim é que, como já adiantado, Dave Smith e Ikutaru Kakehashi assentaram a pedra fundamental do sistema MIDI. Concluíram que a ausência de compatibilidade entre os produtos de diversos fabricantes poderia inibir o crescimento das vendas. Falavam os dois empresários em um sistema de comunicação digital "universal", que denominaram MIDI (Musical Instrument Digital Interface), e anunciaram pela primeira vez ao público em 1982, definindo as instruções básicas, como, especialmente, acionamento de notas e volumes. A demonstração consistiu em dois sintetizadores, um da Roland (Jupiter-6) e outro da Sequential Circuits (Prophet-600), conectados por MIDI com um par de cabos, e o público ficou estarrecido ao ver que os dois teclados soavam juntos!

A Associação MIDI foi fundada em 1985 (www.midi.org), é uma organização sem fins lucrativos, comunidade de pessoas que criam música e arte com MIDI, e desde então produziu onze novas especificações e adaptou trinta e oito conjuntos de melhorias para MIDI. A missão da associação MIDI é, segundo informa o próprio site, a cultivar uma comunidade global de pessoas que criam música e arte com MIDI. O site www.MIDI.org é, pois, o repositório central de informações sobre qualquer coisa relacionada à tecnologia MIDI. Pessoas que utilizam a tecnologia MIDI podem aderir à Associação MIDI para aprender sobre a linguagem, partilhar as suas experiências e projetos em fóruns, e ampliar seus conhecimentos. Isso inclui músicos, artistas, educadores, vendedores de varejo, DJs, desenvolvedores de jogos, designers e engenheiros de som.

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