O Navio Zenith foi o grande palco do Motorcycle Rock Cruise 2015, evento que reúne muitas bandas de rock de todos os estilos - do progressivo ao heavy metal - e clubes de motorciclistas do Brasil inteiro, inclusive do exterior. Na edição, de 2015 foram 1.700 pessoas navegando durante cinco dias e quatro noites pela costa litorânea brasileira, mais precisamente entre Santos (SP) e Porto Belo (SC), além dos mais de oitocentos tripulantes de várias nacionalidades.
Em um dos dias, eu caminhava tranquilo e sozinho pelo Bar Rendez Vous, no sétimo andar, em direção à minha cabine que estava localizada em um dos corredores do quarto andar, quando, repentinamente, escutei uma música muito bonita vindo de um piano, improvisada mediante temas de jazz. Parei um segundo para ouvir, embora estivesse realmente exausto. Não demorou e me interessei em saber quem estava dedilhando as teclas. Daí foi só seguir o rumo do som, a fonte, e encontrei em um canto do salão este sujeito se divertindo em um piano de meia cauda:
O local estava totalmente vazio, todos estavam na piscina assistindo alguma atração do Motorcycle, ou mesmo no Café Moka degustando coquetéis ou capuccinos, mas ali, no salão Rendez Vous, era possível apenas ouvir o piano, nada mais.
Fique parado ali, de frente para o pianista, curtindo a música. Assim que terminou de tocar, aplaudi com entusiasmo, e falei ao pianista que gostei muito da música. Então ele disse de forma muito simpática, antes de cair na gargalhada: "I don't speak portuguese". Bom, como fazer? Meu inglês também não é lá essas coisas. De qualquer modo, seja por gestos, seja por palavras de fácil vocabulário, começamos a conversar principalmente sobre música, é claro. Falamos sobre compositores brasileiros como Tom Jobim e Villa-Lobos, ou ainda sobre nossa satisfação do navio conter diversos pianos espalhados pelos decks, sempre abertos, convidando-nos a tocar.
Então perguntei se ele era um dos pianistas do navio, acreditando que esta seria a resposta.
Contudo, ouvi o seguinte: "I'm guitarist and singer of the band philm"!
Sim, meus amigos, esta pessoa que está comigo na foto de capa é Gerry Nestler (Civil Defiance), guitarrista/vocalista da banda PHILM, uma das atrações principais do Motorcycle Rock Cruise, originária de Los angeles, EUA, juntamente com o baterista Dave Lombardo (Slayer, Amen), e o baixista Francisco "Pancho" Eduardo Tomaselli (War). A banda Philm é projeto de música experimental que mistura post-hardcore, jazz, ambient, hardcore punk e funk.
Logo após, quem aparece?
Renato Zanuto, maestro, pianista e tecladista, que participou do disco do Sepultura - "The Mediator between head and hands must be the heart", gravado en Los Angeles - CA, com destaque para a introdução da música "The Vatican". Gravou também o disco Hubris I e II de Andreas Kisser que foi indicado ao Grammy Latino em 2010 com participações especiais de Zé Ramalho, Tony Beloto, Rappin Hood, Henrique Portugal (Skank).
Depois eu encontrei Gerry no restaurante do navio, no sétimo andar, e ele abriu um sorriso e disse, da mesa dele: "Mr Renato Moog!, I saw you on TV"! A razão dele ter falado isso é que a gravadora oficial do navio filmou o show da Echoes Pink Floyd São Paulo no Teatro, e nas cabines eram veiculadas cenas do filme!
Depois, já no dia seguinte, ainda vi os três integrantes da banda PHILM tocando jazz contemporâneo no cassino para um privilegiado público de no máximo dez pessoas.
Eu, é claro, estava lá registrando tudo na minha câmera de vídeo:
O Motorcycle Rock Cruise é isso.
O clima e a programação voltada ao rock, amizades que se faz e reforça, alegria contagiante em todos os ambientes, e, além de tudo isso, a palavra chave: confraternização. Encontrar astros do rock tomando um café no "Moka", no oitavo andar do navio, no bar da piscina, ou mesmo dedilhando as teclas de um piano encostado em um canto de uma das salas é perfeitamente normal.
E o mais importante é que neste universo de músicos e fãs, impera sempre a cordialidade.