top of page

Entrevista com Allex Bessa


Entrei em uma famosa loja de instrumentos musicais na Rua Teodoro Sampaio, em São Paulo, no início da década de 2010, em busca de um órgão compacto, o modelo Hammond XK-3, lançado em 2006 pela Suzuki. Após rápida conversa com o vendedor, soube que um fabricante nacional havia lançado uma opção muito interessante para instrumentos clonewheel: o órgão Tokai TX-5. Claro que tinha de conhecer a novidade, e imediatamente nos dirigirmos para uma sala repleta de teclados, e logo me deparei com o equipamento estrategicamente acomodado em meio a quadros de publicidade do fabricante e posters de tecladistas e bandas. Fiquei surpreso com a aparência do instrumento, um modelo Classic, com suas teclas em estilo waterfall, e seus chassi de alumínio preso a um gabinete bem acabado de madeira, destacando-se dois conjuntos de ajustes de parâmetros no estilo drawbars, com presença até mesmo do recurso key click, que simula a geração de som das comutações mecânicas dos órgãos com modelagem analógica. A sonoridade realmente me deixou perplexo: estava ouvindo um verdadeiro clonewheel, e o melhor, por um preço muito convidativo.


O homem por trás dessa preciosidade se chama Allex Bessa: tecladista, arranjador, produtor e compositor, que atuou como coordenador de desenvolvimento do instrumento junto à Tokai. Ao adquirir o produto naquela tarde, recebi junto com o manual de instruções um DVD com demonstração operacional, inclusive com exemplos de regulagens de timbragens, tal qual apresentado com muita desenvoltura e segurança pelo próprio músico, geralmente citando parâmetros de sonoridades de bandas como Yes e Deep Purple, principalmente, com base nos estilos de Jon Lord e Rick Wakeman.


Soube depois que Allex integrou bandas como “O Terço”, “Tarkus” e “Banda Do Sol”, dentre outras, e já participou de grupos de acompanhamentos de músicos improtantes como “Sergio Dias”, “Rita Lee”, “Gloria Gaynor”, “Gerson Conrad” e “Nuno Mindelis”. Naturalmente me interessei em saber mais sobre esse formidável músico brasileiro, sua história, influências, método de composição, enfim, sobre a vida e obra. Alguns meses se passaram, e finalmente o conheci pessoalmente na ExpoMusic 2013, que ocorreu na Expo Center Norte, em 2013, e embalamos animada conversa no stand da Tokai. Alguns anos se passaram, e enviei convite para participação comigo no show de estreia da banda “Rick Wakeman Project”, em 2018, que foi gentilmente aceito, e naquela mesma noite, no camarim, eu o convidei para me conceder a presente entrevista. Após trocas de mensagens, agendamos uma data para uma animada conversa, cujo resultado transcrevo a seguir.



  • Allex, conte-me sobre seu início com a música.

Aprendi a tocar no piano de casa sozinho a partir dos onze anos, e cinco anos após fui convidado para tocar em um bar perto de casa. Vendo que ganharia bem com a música estudei no CLAM em Santos até aprender a ler e escrever música, em um total de seis meses com o saudoso Mario Cabral Athaíde, tecladista do Placa Luminosa na época. Depois me mudei para São Paulo e comecei a trabalhar em estúdios fazendo arranjos e gravando para a RGE, Velas, Paulinas, Atração e Continental/Warner East West. Trabalhei também com jingles e trilhas para inúmeras empresas, desde “O Bife” do Danoninho, até Batatas Pringles, Microsoft... enfim, muita coisa. Sempre fui mais ligado ao rock e isso me conectou a grandes músicos, como Rita Lee e Nuno Mindelis, por exemplo. Remontei a Banda Tarkus e lançamos um álbum “Ao Vivo Em Niterói” pela Rock Symphony e Musea. Depois participei da Banda Do Sol onde gravamos o álbum Tempo, que teve a Mixagem do Billy Sherwood (YES) e a master do Joe Gastwirt. Billy Sherwood tocou conosco em 2010 no lançamento do álbum e nesse mesmo ano vim para Gramado para tocar num espetáculo de natal que me fascinou a ponto de me mudar definitivamente para cá, e introduzir meus filhos na carreira musical. Atualmente penso em montar uma banda por aqui: a gauchada aqui é muito boa de Rock!


  • Seu grande inspirador para a música é Rick Wakeman?

Sim, Rick Wakeman, Rick Wakeman e Rick Wakeman! Também por grandes mestres da música clássica como Wagner, Tchaikovisky e Bach.


  • Complicado especificar algumas músicas que você sempre gosta de tocar?

Sempre me aqueço com Rick Wakeman (óbvio). Catherine Of Aragon, Catherine Howard e Anne Boleyn.


  • Conte-me sobre suas composições.

Sempre que brinco com meus teclados sai alguma coisa nova e isso acaba se tornando uma composição. “Degredado” surgiu nos meus dedos quando liguei meu recém comprado Kurzweil PC88mx. A melancolia dela me remeteu ao que deveria ter passado um jovem de dezoito anos degredado e arremessado ao mar em terras desconhecidas. Esse seria Mestre Cosme Fernandes degredado de Portugal e arremessado no mar de Icaparra, caminhando de Iguape à Gohayó. “Mundo Novo” é uma das minhas preferidas porque ela surgiu debaixo dos meus dedos numa manhã no meu estúdio enquanto programava uma combinação de timbres de orquestra num Roland Fantom X8, usando fones para não acordar as crianças ao mesmo tempo Maristella, do outro lado da casa, escreveu uma letra que misteriosamente se encaixava no que eu estava tocando e acabei gravando. Nessa época nos inspirávamos muito na história de Gohayó. “Harpë” é uma das mais recentes que eu gravei inspirado na minha bengala que comprei pra me auxiliar a caminhar (isso é uma longa história). A gravação desse álbum foi feira sem edições, sem cortes e a mixagem apenas usando controle de volumes e ambiências. O mínimo de recursos possível.


  • Qual o setup que você forma com no máximo seis teclados?

Atualmente gostaria muito de ter um setup com os Korg Kronos, King Korg, Prologue. Behringer ARP Odyssey, Poly D e MonoPoly.


  • Uma conquista da qual mais se orgulha?

Foi ter criado o TX-5 da Tokai.


  • Diga-me como você lidou com uma situação difícil.

Além da referência à pergunta anterior (risos) ??? Eu sou mestre em encarar situações difíceis e quanto mais difícil mais eu me entrego. Entrar num estúdio pela primeira vez para gravar todos os instrumentos de dez músicas em um dia e mixar com apenas um teclado Roland D-20 em 1989. Ser chamado para tocar com Gloria Gaynor na terça, receber o repertório na quarta e embarcar na quinta pra gravar um DVD ao Vivo Em Salvador na sexta sem ensaio. Mas nada se compara à resposta à pergunta anterior.


  • O modelo D-20 realmente foi um lançamento interessante da Roland. Os timbres não eram tão bons quanto seu irmão D-50, mas o sequencer acoplado era formidável, embora com sua limitação de memória, não é mesmo? Allex, o que te motiva?

Meus filhos, dar exemplo com meus trabalhos, querer fazer cada dia algo melhor que no dia anterior.


  • Quais são seus hobbies?

Fotografar e estudar sobre tecnologia.


  • O que te deixa desconfortável?

Injustiça.

  • Síntese aditiva, subtrativa, samples ou FM?

FM é coisa de E.T. e eu prefiro evitar. Adoro as outras formas de trabalhar com sintetizadores.

  • O que você mais gosta e menos gosta em trabalhar com música?

Mais gosto de compor e produzir trilhas sonoras. O que menos gosto é de seguir regras.

  • Como lidar com a internet em termos de música? O que é interessante, e o que não vale a pena?

Vejo a internet como uma libertação de amarras. Você tem contato direto com pessoas que se interessam pelo mesmo assunto. A ideia de poder lançar, editar e divulgar o trabalho em poucas horas. Existem DAWs on-line onde você pode gravar com músicos de qualquer canto do mundo interagindo praticamente ao mesmo tempo. O que não vale a pena é se incomodar com o festival de besteirol que se encontra nas redes sociais diariamente.

  • Quais suas marcas prediletas de sintetizadores, pianos, clavinets e órgãos? Algum modelo em especial que vc considera eterno?

Os originais: Hammond B3, Horn Clavinet, Fender Rhodes, Wurlitzer M-200, Minimoog e Mellotrons já estão eternizados. Korg é a minha marca preferida e a Behringer está surpreendendo com a altíssima qualidade dos sintetizadores atuais.

  • Instrumentos vintages?

Se tivéssemos peças para repor e bons engenheiros técnicos em eletrônica, eu preferiria os Vintages. O som analógico é muito mais agradável de se ouvir e são mais originais. Parecem ter vida própria.

  • Qual o melhor conselho que você recebeu?

Do meu pai. “Não existe meio certo e nem meio errado”. Se não for certo, saia de perto.

  • Algum arrependimento?

Talvez de ter lançado meu primeiro álbum apenas aos 52 anos. Ter dado ouvidos às pessoas erradas.


  • O que vem a seguir em sua vida para você?

Agora é produzir muitos álbuns novos com tudo que ficou bloqueado por esses anos e lançar nas plataformas de streaming e lançar alguns desses álbuns em Vinil.

  • Que conselho vc poderia dar para quem pretende iniciar os primeiros passos no mundo da música?

Não há regras para a música. Temos os exemplos dos grandes mestres da música que fugiram delas e criaram obras primas que hoje são eternizadas.





64 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page