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Entrevista com Fabio Ribeiro

Atualizado: 21 de abr. de 2021


Incentivado pelos pais, ambos professores de música, o paulistano Fabio Ribeiro iniciou os estudos de piano erudito em 1975. Após alguns anos, já no início da década de 1980, motivado a tocar com outros músicos, ingressou em sua primeira banda, a Annubis, porém, curiosamente, como guitarrista. Alguns anos depois, e para sorte nossa, tecladistas, assumiu seu instrumento de origem, e passou a integrar bandas importantes, dentre as quais, Desequilíbrios, Angra e Shaman, além de ter participado de diversos concertos com a banda Violeta de Outono, e integrado a Pink Floyd Cover SP, uma das pioneiras neste campo das bandas tributos.  Atualmente assume os teclados e produção da banda Remove Silence.

Certa vez, conversando com Fabio Ribeiro, disse-me que desenhava suas próprias miniaturas de sintetizadores (papel) com base em imagens colhidas principalmente da internet, trabalhando com proporções, sombras, contrastes, detalhes. Confidenciou-me que era para ter se tornado publicitário, mas a música sempre significou muito mais. Sempre muito simpático, presenteou-me com seus preciosos arquivos, algo que só mesmo alguém muito generoso poderia fazer.  Interessante ver que um músico tão solicitado por outros músicos e também por fabricantes - inclusive no âmbito da consultoria -, também proprietário de um estúdio de gravação, mesmo quando pensa em se divertir, busca algo relacionado à música.  É o que muitos chamam de amor, e no caso de Fabio Ribeiro, pela música.  

Trata-se de uma grande referência para nós, músicos, especialmente para tecladistas, e nada melhor que conhecer um pouco mais da vida e obra.

A seguir, confiram a nossa conversa.

  • Com quantos anos você começou a estudar música? Houve incentivo de alguém em especial? Por qual razão você escolheu aprender um instrumento de teclas?

Comecei com cinco anos de idade. Meu pai era professor de violão erudito e tinha uma banda de chorinho, minha mãe tocava piano. Desde que nasci, meu pai sempre quis que eu tocasse algum instrumento, mas que iria esperar até eu ter idade suficiente para escolher. Quando um vizinho meu ganhou um piano de brinquedo, eu pirei e fiquei insistindo para que ganhasse um também. Foi a dica que meu pai esperava, me colocaram no curso de piano erudito e logo depois ganhei um piano de verdade. Até o início da adolescência eu não curtia muito a coisa, mas me dava bem no curso, embora furasse algumas aulas de vez em quando. Por volta dos doze anos comecei a levar a idéia com mais amor e me formei com dezessete. Entrei na minha primeira banda tocando guitarra, mas não levava muito jeito, então os outros integrantes insistiram para que eu tocasse teclados. Comprei meu primeiro instrumento musical eletrônico em 1985 e de lá para cá a coisa não parou mais!

  • Quais seus primeiros sintetizadores?

O primeiro instrumento musical eletrônico que tive foi um Blump Digitone SS-61, uma mistura de órgão eletrônico e sintetizador de fabricação nacional. Lembro-me que fomos todos juntos para escolher nas lojas, a banda, eu e minha mãe. Em uma loja havia um Korg Poly-800, lançamento na época. O preço era similar, mas eu acabei escolhendo o teclado que era maior e mais cheio de botões e luzes, haha. No final das contas, o SS-61 é hoje um instrumento cult, exótico e bastante procurado por colecionadores no Brasil. Infelizmente não o tenho mais, mas gostaria de tê-lo preservado. Usaria hoje com certeza.

  • Algum em especial que você gostaria de incluir em seu setup atual?

Atualmente, o universo dos sintetizadores está em seus melhores dias desde que comecei, nunca antes houve uma apreciação tão grande e um desenvolvimento tão intenso. Inúmeros modelos são lançados a cada ano e estamos também vivenciando o ressurgimento dos melhores instrumentos desta classe - os sintetizadores analógicos, que estiveram adormecidos por mais de duas décadas. Até outro dia, eu sabia absolutamente tudo sobre cada modelo lançado no mercado, hoje são tantos que não consigo mais acompanhar com todos os detalhes. E também não dá para ter todos, minha lista de desejos tem mais de dez modelos pendentes, haha. Tenho muita saudade do Minimoog Model D. Tive dois no início da década de noventa e vendi a preço de banana, pois a tendência na época eram os workstations digitais mais versáteis e instrumentos baseados em samples. Este é o primeiro da lista! Faz tempo que estou interessado também nos sistemas modulares. Como os sistemas da Moog são inviáveis economicamente para a nossa surrada terrinha das bananas, com seus impostos incabíveis, estou pensando em montar um sistema Eurorack em breve. O sistema é uma das maiores tendências mundiais na nossa área. Somente aqui, na terra do atraso, a coisa ainda não pegou ainda.

  • Qual seu setup ?

Meu setup é um apanhado de tudo o que considerei bom e útil durante os anos. Já tive muita coisa, acho que perto de cinquenta instrumentos ou mais que vieram e se foram com o tempo. Hoje possuo os seguintes modelos: Korg - Kronos 2, Kronos, KingKorg, MS-20 Kit, MS-20 mini, Minilogue, Monologue, MS-2000B, M3R, ARP Odyssey FS Rev1, ARP Odyssey Rev3, Volca Beats, Volca Bass, Volca Keys, Volca Sample, Volca FM, Volca Kick, Monotribe, Monotron Classic, Monotron Duo, Monotron Delay. Nord - Stage, Modular G2X, Lead 3, Electro 2. Kawai - K5000W, K3m, K1m. Roland - Alpha Juno 1. Oberheim - Matrix 1000.

  • Como funciona seu setup em termos de conectividade, o bom e velho sistema MIDI, USB, ou ambos?

Trabalho o tempo todo no computador, para compor, arranjar e gravar. Meu estúdio está para completar vinte anos. Aqui, uso ambos os sistemas de comunicação, MIDI padrão para os instrumentos mais antigos e USB para os mais recentes. Ao vivo, consegui reduzir drasticamente meu set, graças ao Korg Kronos, que é simplesmente o instrumento compacto mais poderoso e versátil do mundo. Os únicos acompanhantes no palco agora são o KingKorg e um dos iPads. O KingKorg é conectado ao Kronos via USB para controle e soma de timbres.

  • Como você aprendeu a trabalhar com síntese sonora?

Na carne e na coragem, haha! Na época em que comecei, por volta de 1985, não havia quase nada de informação a respeito por aqui. Minha bíblia era a revista Keyboard americana. Meu primeiro sintetizador importado foi um Casio CZ-101, que veio acompanhado de um livro sobre Síntese Sonora, foi assim que comecei a entender melhor como tudo funciona. Nunca fiz nenhum curso na área, sou totalmente autodidata, sempre pesquisando muito e mexendo muito na prática durante estes anos todos. E nunca parei de estudar, sempre procurando saber sobre novas tecnologias e como aplicá-las, juntamente com um aprendizado cada vez maior sobre as coisas antigas também. É uma área que não tem fim, precisamos estar sempre atualizados.

  • Sobre o iPad e outros tablets, quando você começou a realmente utilizar? Usa também nos palcos?

Comecei atrasado, em 2012, com um iPad 3. Atualmente, tenho três modelos e mais de 300 apps musicais instalados em cada um deles. É um dispositivo sensacional! Fazia muito tempo que eu não me surpreendia de verdade com um equipamento. A quantidade de apps dedicados e sua qualidade sonora vêm crescendo absurdamente. Posso dizer que praticamente metade do que uso em estúdio para gravar com a minha banda vem dos iPads. Muitos modelos de sintetizadores clássicos foram incluídos no sistema em versões virtuais aprimoradas e inúmeros apps completamente únicos em sonoridade e controle despontam o tempo todo. Existem muitas coisas no iPad, em termos de som e controle, que são simplesmente impossíveis de serem realizadas em outros instrumentos. O controle através da tela multi-touch possibilita execuções musicais exclusivas e os diversos sistemas de síntese até agora inéditos e também combinados com sistemas tradicionais tornam o dispositivo algo simplesmente cativante para quem gosta de explorar novas possibilidades sonoras. Uso ao vivo também, mas somente através de controle na própria tela para sons exclusivos, não uso como módulo de timbres controlado, pois os dois teclados Korg dão conta de que preciso neste aspecto. Posso dizer que o iPad é uma das mais poderosas inovações musicais deste século. Os tecladistas que ainda não entraram nesta onda estão perdendo muita coisa legal!

  • Como são suas atividades na área de consultoria musical?

Trabalhei para algumas empresas como consultor de tecnologia e programador. A primeira, por ironia, foi a Korg em 1993. Hoje sou patrocinado pela marca. A seguir trabalhei para a Kawai e para a Clavia, fabricante dos teclados Nord. É um trabalho que gosto muito de fazer, embora na época o serviço tenha sido um pouco complicado, devido à desinformação do brasileiro típico em relação a instrumentos dedicados e de certa forma mais complexos. A Kawai lançava seu instrumento de Síntese Aditiva Avançada através do K5000 e a Nord entrava no Brasil com seus instrumentos dedicados à simulação de sintetizadores analógicos e aparelhos eletromecânicos. Era como tentar ensinar física quântica para um macaco. Mas, por incrível que pareça, tudo mudou bastante por aqui nos últimos anos e, graças as informações na internet e as redes sociais, os tecladistas brasileiros começaram a enxergar o real valor e o verdadeiro propósito de seus instrumentos. Tem muito mais gente esperta hoje do que naquela época, embora ainda estejamos bem atrasados em relação à maioria dos músicos de fora. No momento, não trabalho formalmente para nenhuma empresa, mas continuo com as aulas particulares sobre o assunto aqui no estúdio. Quando convidado, realizo eventos pontuados na área.

  • Sobre os VSTi’s, alguns de sua preferência?

O primeiro instrumento virtual que usei no computador foi o ReBirth da Propllerheads na época de seu lançamento, seguido pelo Reason que uso muito até hoje. Uso muita coisa da Native Instruments desde que começaram a produzir, como o Absynth, o Kontakt e o Reaktor, entre outros. Também sou apaixonado pela Arturia, que é um dos fabricantes mais legais. Estes pacotes mais recentes simulando instrumentos clássicos são sensacionais em sonoridade e versatilidade! Curto muito a GForce também e seus instrumentos estão sempre presentes no que gravo por aqui, principalmente o M-Tron Pro. Meu som de órgão Hammond preferido vem do GSi VB3.

  • Sintetizadores analógicos ou digitais?

Sempre preferi misturar o melhor dos dois universos. Não estou incluído entre os puristas que preferem unicamente instrumentos analógicos e deixam de usufruir das inúmeras vantagens dos sistemas digitais. Ambos possuem suas qualidades e cada sistema serve para propósitos distintos. Quando combinados, oferecem um potencial gigantesco. O iPad é um exemplo, quem não usa por preconceito não sabe o que está perdendo. Mas devo admitir que tenho uma queda especial para os analógicos, por questões de criatividade e sonoridade, principalmente os modulares e sintetizadores sem memória de patches que obrigam o usuário a criar seus próprios sons. Sempre acreditei que boa parte da personalidade musical de um tecladista vem de seus timbres, muito mais do que de suas técnicas ao executar os instrumentos. No passado, quando éramos obrigados a isto, tínhamos tecladistas muito mais criativos e com personalidade do que temos hoje.

  • Sonar ou Pro Tools?

Usamos o Pro Tools aqui no estúdio por mais de dez anos, sempre em paralelo com o Sonar, que foi meu primeiro workstation no computador, ainda chamado Cakewalk Pro Audio. É o que eu sempre digo, o melhor DAW é aquele com o qual o usuário está mais acostumado e domina melhor. Hoje em dia, todos fazem praticamente as mesmas coisas com a mesma versatilidade e a mesma qualidade, não existe um melhor que o outro. O que importa neste caso é a captação, a pré-amplificação, a conversão A-D e D-A, seus plug-ins de processamento e seus ouvidos, conhecimento e bom gosto no momento de administrar tudo isso. É estúpido dizer que um trabalho soa melhor ou pior em um DAW ou em outro. Hoje usamos somente o Sonar, por questões de praticidade e facilidade de manutenção. É um software completo que apresenta recursos muito bons para toda a extensão de um trabalho, da pré-produção à mixagem final. É extremamente amigável e versátil e nunca nos limitou em nada do que precisamos fazer.​

  • Hard Rock ou Rock Progressivo? No campo do hard rock os tecladistas assumiram na história papéis de destaque, principalmente com o órgão hammond, como na banda Deep Purple, talvez a mais emblemática. Mas no heavy metal, como você vê a participação de tecladistas?

O Rock Progressivo foi um dos estilos musicais que mais permitiram que a criatividade e a expressão dos tecladistas pudessem ser apreciadas em sua total essência. O Hard Rock também ofereceu isto até os anos oitenta, como no caso de bandas como Deep Purple e Rainbow. O Heavy Metal, em sua forma tradicional, não nos oferece muita coisa, é um estilo para guitarras, foi criado e absorvido assim. Nos raros casos em que bandas de Heavy Metal permitem a inclusão de teclados, estes são colocados apenas como atrativos para uma maior variedade sonora, ou como climas que ajudam o ouvinte a entrar em uma fantasia ou história dependendo do conceito da banda. Em outros casos, muito piores, os teclados são usados apenas para a simulação de instrumentos acústicos, como é o caso da maioria das bandas de Metal Melódico. Um desperdício de potencial sonoro. Outra coisa que não me atrai em nada neste estilo é o uso abusivo da técnica exibicionista, que muitas vezes não faz sentido musical algum. Fui muito reconhecido por participar de bandas deste estilo, mas deixei este universo principalmente por conta destas limitações impostas.

  • Teclados versáteis ou dedicados?

Para mim, isto depende do objetivo. Teclados dedicados obviamente possuem uma melhor sonoridade no que se propõem a fazer, são excelentes para gravação e para soar bem ao vivo. Por outro lado, nem todas as bandas e tecladistas possuem recursos financeiros e de logística para que estes instrumentos estejam sempre presentes no palco. Eu, por exemplo, uso uma infinidade de instrumentos dedicados em estúdio, mas no palco prefiro teclados versáteis que soem bem. Alguns anos atrás isto era praticamente impossível, mas com os avanços da tecnologia, hoje temos instrumentos que cumprem as duas funções com maestria, como é o caso do Korg Kronos.

  • Síntese FM ou subtrativa?

Todos os tipos de síntese, haha! O sistema de síntese subtrativa foi um dos primeiros e certamente o mais difundido, talvez por ter sido o mais fácil de fabricar na época em que foi criado e é até hoje o mais fácil de administrar. É realmente muito fácil obter determinados sons através de osciladores com formas de onda complexas e filtros e é até mesmo possível obter características tradicionais de FM em um sintetizador subtrativo, embora osciladores analógicos não sejam tão precisos em frequência para que tudo soe como um DX7, por exemplo. Muita gente acha o sistema FM complicado, mas tudo parte de um mesmo princípio básico. Ao observarmos bem, todos os sistemas de síntese atualmente são interligados e os synths FM não são mais estes bichos de sete cabeças de outrora. As interfaces de usuário facilitaram muito o processo e é muito mais legal programar o DX7 neste novo pacote da Arturia, por exemplo, do que o modelo original com seu display minúsculo baseado somente em caracteres, sem gráficos ou outros itens visuais. Embora eu prefira os sons dos synths subtrativos em muitos casos para o que faço, curto muito o sistema FM e uso bastante, mas não para a geração de pianos elétricos, haha. São imensas as possibilidades para geração de timbres diferenciados e o sistema é muito mais que isso.

  • Em quais bandas você já tocou? Alguma lembrança em especial?

Minha primeira banda chamava-se Annubis, em 1984. Tocávamos Rock Progressivo Instrumental com pitadas de Heavy Metal. Ficamos putos quando o Iron Maiden lançou o Powerslave e tivemos que mudar todo o material visual da banda que era muito parecido, haha. Estamos reativando este projeto este ano, com os mesmos quatro integrantes, como uma forma de auto-homenagem com um toque de nostalgia. Mas vamos manter as composições e arranjos originais da época na gravação nova, apenas trazendo a sonoridade para os dias atuais. A seguir, em 1986, ingressei na banda Desequilíbrios, uma mistura de Prog, Fusion, Metal e o que mais nos desse na telha. Um som muito peculiar com letras ácidas em português. Lançamos um único álbum em 1992, quando a banda se dissolveu. No final dos anos 80 e início dos 90, toquei e gravei com A Chave do Sol, Overdose, Clavion, Anjos da Noite e várias outras bandas. Lancei também meu primeiro projeto solo chamado Blezqi Zatsaz, de Rock Progressivo Instrumental. A seguir participei das primeiras empreitadas da banda Angra, na época de seu primeiro álbum. Comecei então a trabalhar como consultor de tecnologia para empresas fabricantes de instrumentos musicais eletrônicos e me afastei um pouco da cena, retornando ao Angra em 1999 para a última turnê com a formação original. Neste meio tempo, toquei com o Pink Floyd Cover de São Paulo e também com a banda de Prog Psicodélico Violeta de Outono, que foi uma experiência muito legal e recompensadora. Gravei uns cinco discos com eles e fiz vários shows. Em 2001, ingressei no Shaman, banda de ex-integrantes do Angra, com a qual toquei até 2005. Em seguida, participei da banda do vocalista Andre Matos, com a qual gravei seus dois primeiros álbuns. Neste mesmo período, foi formada a minha banda atual - Remove Silence. As melhores lembranças vêm do período em que estive no Shaman. Embora eu fosse um músico de apoio, o famoso tecladista convidado em uma famosa banda de Heavy Metal, tive total liberdade de expressão e muito do meu reconhecimento hoje vem da oportunidade que eles me deram. Foi uma pena tudo ter terminado como aconteceu. Se não fosse o egocentrismo de uns e outros estaríamos aí até hoje com certeza.

  • A banda Remove Silence foi formada em 2007. De lá para cá foram cinco álbuns. Quais os planos da banda para o futuro?

Esta é certamente a banda na qual tenho mais liberdade para me expressar musicalmente, pois não seguimos rótulos, tendências de mercado ou opiniões alheias. Desde o início, fazemos o que gostamos, misturando as influências musicais de cada integrante e, sem querer e sem nenhuma pretensão, acabamos entregando um som bem diferente. Uma das coisas de que mais me orgulho é quando grande parte da mídia e das pessoas diz que o som da banda é inovador. Isto é extremamente gratificante para alguém como eu que sempre procurou se diferenciar de alguma forma. São dez anos, cinco álbuns e ainda estamos sempre procurando fazer a coisa de maneira ousada sempre que possível. Nosso próximo trabalho está sendo finalizado e deve ser lançado em breve. Como vivemos em um país onde tudo parece estar andando para trás em direção à época das cavernas, literalmente, estamos fazendo como qualquer outro na área faria, procurando nosso espaço no exterior, onde já fomos pré-indicados ao Grammy, por exemplo. Não acredito que a curto prazo a música no Brasil volte a ter um mínimo grau de qualidade e respeito, depois do caos cultural e social gerado propositalmente pelos últimos governos em favor de um projeto de poder baseado na burrice de quem aperta o botão na fraudulenta urna eletrônica. Tudo isso que está acontecendo aqui tem um propósito claro e ardiloso que afetou tristemente a nossa cultura e infelizmente não temos nenhuma razão para investir nosso trabalho aqui.

  • Como foi sua experiência como tecladista de uma banda cover de Pink Floyd?

Eu sempre adorei Pink Floyd, desde os meus dez anos de idade quando ouvi alguns álbuns na casa de um amigo que tinha irmãs mais velhas que curtiam muito o som e possuíam uma discoteca imensa de coisas boas da época. Imagine você, duas meninas de uns dezessete ou dezoito anos que só ouviam Queen, The Police, Pink Floyd, Alan Parsons... Muita diferença do que ocorre hoje com as garotas desta idade não é mesmo? Pink Floyd foi a trilha sonora da minha adolescência. Lembro-me de assistir o filme The Wall por quatro vezes seguidas quando foi exibido nos cinemas aqui. Tenho todos os discos em vinil e CD. Ingressei no Pink Floyd Cover em 1995 e permaneci até 2004. Era como um hobbie agradável que dava uma graninha, paralelamente aos meus trabalhos autorais, pois nunca gostei de fazer cover e nunca toquei em bandas de covers variados na noite, sempre preferi dar valor à criação e investir totalmente nisso. A banda Desequilíbrios também fez um tributo ao Marillion, mas paralelamente ao nosso som autoral. Tudo no PFC era muito divertido e prazeroso, pois o som era muito legal de tocar e as empreitadas eram sempre hilárias, então curti bastante aquela época.

  • Algum álbum preferido do Pink Floyd?

Dark Side Of The Moon, The Wall, Wish You Were Here e Animals. Obras primas!

  • Sobre Richard Wright, o que você poderia dizer?

Um gênio. Acho que foi um dos tecladistas de mais bom gosto que já ouvi, misturando toda a sua simplicidade e discrição para um resultado sonoro cativante, extremamente emocional e profundo. Poucos tecladistas conseguiram chegar a um resultado tão eterno no mundo da música sem apelar para excentricidades ou exibicionismo técnico descabido. O que ele fez realmente é de tocar a alma, algo que ficará para sempre.

  • Para quem está começando a aprender música e tecnologia musical, dicas?

A música é algo que está na alma. Quem tem o dom para isso vai se dar bem estudando bastante ou não. Música é algo meio etéreo, então não é questão de técnica, é questão de energia. Um bom músico vai cativar seus ouvintes se sua música for profunda e despertar reações no coração das pessoas. Isto está provado desde que começamos a gritar nas florestas e a bater em troncos de árvores. Richard Wright e o Pink Floyd são um bom exemplo. Nenhum deles é muito técnico, mas a música é tocante, é profunda, desperta sentimentos. A parte de tecnologia musical é um pouco diferente, depende muito de conhecimento técnico, mas também requer feeling, muita experimentação e ousadia. Em ambos os casos, sempre aconselho estudar para conhecer os elementos básicos para que a coisa comece a se desenrolar. E em ambos os casos, é primordial prestar atenção nas reações das pessoas que ouvem o seu som. Afinal, estamos gerando energia através de variações de pressão atmosférica que tocam não somente os ouvidos, mas o interior das pessoas. Se a reação é boa, você está no caminho certo, não importa a complexidade ou a simplicidade do som que esteja fazendo.

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